sábado, 15 de setembro de 2007

Sonho nº I

Os monges estão ajoelhados e chorando.
O hospital tem paredes sujas de um certo e esverdeado branco, meio que doente. A casa da cura está morrendo.

Ando pelos corredores lotados e sei para onde estou indo.

O corpo está deitado ao chão e é por ele que rezam os monges de cabelo raspado e roupas laranja.
É uma mulher e eu a conheço, vim por ela, e por ela estou parado em pé diante de centenas de monges que não sei de onde vieram, nem como cabem.

Três deles tem detalhes negros nas roupas e são os únicos que parecem ter direito a tocar o corpo, mas ainda assim não o fazem.

Ela está morta?
Está.
Todos estão morrendo, já contamos muitos.

Todo o hospital está tomado por corpos que choram e velam pelos seus.
Os monges velam por ela.
Eu a conheço.

De alguma forma a conheço, li tudo que ela escreveu e a adorei em um completo estranhamento.
Li tudo que ela disse, pensou e foi.
Agora sei que ela é escritora.

Um dos monges levanta e assina um papel.
Sento-me ao lado dela e penso que bom seria se estivesse viva.
Todo o corpo dela treme em espasmos, ela agarra meus ombros abre os olhos - que são azuis - e diz-me com milhares de palavras em uma única algo que só poderia traduzir por:
- A vida é um fim em si só.

Tremo, choro, grito.
Ela está morta.

Um comentário:

Leandra Postay disse...

Se meus sonhos resultassem em bons textos, eu adoraria sonhar.

 
Agora você deve carregar esse peso